UM SER ESTRANHO
Max Ernst, The Robing of the Bride, 1939
u
m
ser
estranho
vive em mim
amordaçando-me o pensamento
embaraçando-me
perante o reflexo da minha imagem
neste habitáculo que lhe serve
de morada vive confinada
mirrando-lhe o corpo
confundindo-me a mente
balançando entre o real e o imaginário
conturbando o presente
Glorioso o tempo do templo
agora em cadência lenta
como uma pétala
bailando ao som da brisa
inebriada com o sabor
olhando o nada
a dança que danço solitária
A cada dia que passa
as notícias dos jornais não me surpreendem
na minha monotonia sem sintonia
surpreende-me a minha constante passivez
com que encaro o mundo
encarnando-o em mim