EMIR KUSTURICA
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HERBERTO HELDER
HERBERTO HELDER
Nasceu no Funchal (Madeira) a 23 de Novembro de 1930. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa. Colaborou em diversas revistas de poesia. Tradutor, poeta e ficcionista. Indiscutivelmente, um dos grandes poetas portugueses, com um exímio domínio da linguagem.
Aos amigos
Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Herberto Helder, Poesia Toda, Assírio & Alvim, 1996
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A FONTE
A fonte que jorra de mim esvaisse
e um pequeno fio desliza
percorrendo os espaços vazios
lentamente sem vivacidade
acariciando monotonamente o nada
funestas e sombrias
as sombras assombram-me...
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DESPIDA
)
Falling leaves - Oil/Canvas (70x50)
Marianna Smolkina
Árvores despidas
como despido o Outono da
minha alma
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NÃO ENTRES DOCILMENTE ...
Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.
No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.
Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis acções ter dançado na baía verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E os loucos que colheram e cantaram o voo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.
Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quanto os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entre docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.
Tradução
FERNANDO GUIMARÃES
Dylan Thomas
(1914-1953)
(in «A Mão ao Assinar este Papel",
Assírio & Alvim, 1998)
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DYLAN THOMAS
Dylan Thomas oil/canvas 100x710cm
by GORDON DICKINSON
Dylan Thomas (1914-1953). Um dos mais importantes poetas universais do século XX, natural do País de Gales, foi um incompreendido em vida (faleceu aos trinta e nove anos), mas a qualidade soberba da sua Obra salvou-o para a História da Literatura. Hoje é estudado em Universidades, cantado por vozes de diferentes continentes e até o famoso Bob Dylan usou o seu sobrenome como pseudónimo artístico. Saído de uma escola literária que teve autores como T. S. Eliot, Edith Sitwell, W. H. Auden ou Stephen Spender, não deixou, infelizmente, uma obra vasta à Humanidade. Mas a sua poesia, intensa, contemporânea, plena de vivência dos sentidos, toca a sensibilidade de gerações e está viva, em muitas línguas do globo, incluindo a portuguesa. «Deaths and Entrances" (1946) é um dos seus livros mais conhecidos, a par com os seus «Collected Poems» (1934-1952). É um dos ícones culturais do século passado.
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TELHADO DOURADO
Quero entrar naquele quadro pendurado
Na sala de estar
Saltar naquela terra sedenta
Esconder-me na casa de telhado dourado
Deitar-me de papo para o ar
E sorver aquele tom laranja
No horizonte desenhado
E sonhar, sonhar
Que foi sempre este o cenário
Que naquele quadro não existiram
Crianças esquartejadas
Por mercenários sanguinários
Que não penduraram cabeças cortadas
Como gloriosos cantavam os soldados regressados
Que a guerra agora terminada
Não ensanguentara a terra sedenta
Não destruíra a casa de telhado dourado
E a cor do horizonte não era senão vermelho derramado
Quero entrar naquele quadro pelo meu pai pintado