SILENCIO DO LUAR
O luar que inunda este momento
está repleto de luz
luz que ilumina o papel
nele reflecte-se o silêncio
e o desejo de abraçar
as sombras que silenciosas me observam
desenham histórias para mim
o latir que ao longe escuto
perdesse na noite
nesta janela enfeitada
cornucópias bailam serenamente
aprisionam-me o olhar
prendem-me e docemente
deixo-me ficar
á luz do luar
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GRITO
Quadro de Edvard Münch, O grito, 1893
Sofro…
Sofro em silêncio
E os meus pensamentos
São gritos
Gritos calados, amordaçados
A imagem que passa
É de calma transparente
Engano os inocentes
Um vulcão brota de mim
Lava de palavras desconexas
Escorrem pela minha mente
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SÓ
Magic Mirror by Paul Klee
Hoje sinto-me assim
perdida de mim...
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JULIO RESENDE
Júlio Resende, Porto, 1983 · 1985.
foto: Carlos Monteiro (DDF-IPM)
Júlio Resende está de parabéns. Faz hoje 90 anos
Mestre Júlio Resende faz hoje noventa anos. O homem, para quem o desenho “é a ideia ou sentimento tornado forma”, faz do encontro do homem com a natureza a inspiração de todo o seu trabalho. Triste só porque «Ribeira Negra», uma das suas obras-primas, está nos armazéns da Câmara do Porto sem ser fruída.
Notícia retirada do jornal "O Primeiro de Janeiro", 23.10.2007
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ANTÓNIO GEDEÃO
António Gedeão, nasceu em Lisboa, em 1906. António Gedeão é o pseudónimo poético do cientista e historiador Rómulo de Carvalho, licenciado em Ciências Físico-Químicas.Fez tardiamente a sua estreia poética, em 1956, mas cedo revelou a preocupação com o destino do homem. Morreu em 1997, em Lisboa."
4 o'clock by Jonny Olsen
Amador sem coisa amada
Resolvi andar na rua com os olhos postos no chão. Quem me quiser que me chame ou que me toque com a mão. Quando a angústia embaciar de tédio os olhos vidrados, olharei para os prédios altos, para as telhas dos telhados. Amador sem coisa amada, aprendiz colegial. Sou amador da existência, não chego a profissional. António Gedeão
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LUA
Neste dia gostaria de te presentear com a lua
Embrulhada em papel dourado
Completamente luminoso
Que te ajudasse a percorrer o teu caminho
A luz resplandecente que vislumbro no alto do morro
Quando a lua nasce para mim
Tomo-a sofregamente com receio de perder o momento
Com delicadeza junto-a ao verde dos montes
Que guardo para ti
Pingos da noite fria escorrem pelos meus olhos
E com eles recordações infantis
Embrulho a lua, a luz, o verde dos montes
Na caixa que guardo em mim
Junto o sorriso dos meus frutos
Flores do teu jardim
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ALBUM DE FAMILIA
Das lembranças mais antigas, recordo quase com exactidão o dia da minha primeira fotografia. A minha primeira fotografia que tenho memória, entenda-se.
Recordo a correria e alvoroço em que a minha mãe estava, preocupada em nos vestir as melhores roupas, as roupas domingueiras. Teria aproximadamente os meus cinco anos, por isso não seria muito pesada, pois lembro que minha mãe agarrou-me pelos braços, levantou-me sem grande esforço e sobre uma arca metálica (onde normalmente se guardavam os lençóis bordados e outro tipo de roupa) vestiu-me umas calças escuras com alças, uma camisola branca e como agasalho um bonito casaco de algodão, que me tinha sido oferecido pela minha madrinha de baptismo.
Naquele tempo a casa onde habitávamos tinha um vasto quintal e no meio do mesmo um pequeno carreiro que ligava a casa ao portão da entrada. Todo o percurso desde a entrada até junto das casas, a minha avó vivia logo ao lado, era decorado com flores, várias flores. Recordo que o cenário escolhido para tirar as fotos foi precisamente junto ás margaridas.
Tanto eu como os meus irmãos estávamos completamente brilhantes, penteados e perfumados, com a velha água-de-colónia.
Mais tarde já adolescentes, as fotografias em questão foram alvo de grande discussão familiar, mas essa é outra história. Tanto que ainda hoje fazem parte do meu albúm fotográfico, rasgadas e toscamente coladas….
Mais tarde o meu agasalho, o bonito casaco de algodão oferecido pela madrinha, foi material de costura. Eu passo a explicar. Na minha rua não existiam carros, ou outros veículos motorizados, senão algumas raras bicicletas, que atentassem á segurança das crianças. Na verdade a minha rua, não era propriamente uma rua, mas sim um grande carreiro de terra batida, em tempos idos bastante famosa. Por lá passaram D. Miguel e as suas tropas, quando em
A rua era o nosso mundo, nele brincávamos livremente. Percorria a rua toda com os meus amigos, conhecia como a palma das minhas mãos o interior de todas casas e quase sempre a minha mãe desconhecia onde eu parava. Só aparecia em casa para almoçar ou jantar quando ao longe ouvia a voz de minha mãe.
Numa dessas minhas ausências apareci em casa mas sem o meu casaco, que obviamente deixara abandonado, perdida em mirabolantes brincadeiras. Mas a minha mãe, como sempre alerta, perguntou-me pelo casaco. Após a minha confissão sobre tortura, que o casaco se encontrava em casa da minha amiga Zirinha, a filha da Ti Glória do alto, fui obrigada a recupera-lo.
Ainda sinto o rubor, o calor de embaraço nas faces do rosto, quando de mão agarrada á minha mãe, pergunto pelo casaco. Nisto aparece a Ti Glória que com palavras azedas diz nunca ter visto tal casaco. Bem resumindo a história, já o casaco estava cortado e recortado e as bonecas bem vestidas, tipo novo modelo de casaco de noite….
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BARCO
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MATERNIDADE
“Maternidade”, 1935,
óleo sobre tela de
ALMADA NEGREIROS
Neste dia interminável
fiz-me mãe
Neste dia já passado
recordo cada momento
mas o momento que mais recordo
o meu deslumbramento para com a vida
o momento em que
a minha filha nascia...
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FOLHAS
Acordo sobressaltada
pelo vento
no meio do nada
Lá fora
a noite dança
ao som da sinfonia
Pequenas folhas
despidas de cor
rodopiam incessantemente
aturdidas, embriagadas
envolvidas numa dança sem ritmo
Pouco a pouco
a noite despedesse
parte cansada
deixando cair
a meus pés
o vestido negro
que envergava...