A CASINHA
A casa da Senhora Ermelinda, na qual foram instalados o meu pai e a minha mãe, naquelas férias, espantou-me completamente. Era pequena, não tinha luz eléctrica e não tinha água (o que os obrigava a pedir aos vizinhos a quantidade de água que necessitavam)
Espantou-me e levou-me a pensar como era possível que em pleno século XX, a caminho do século XXI, encontrar uma casinha em estado quase primitivo. Foi-me explicado pelo meu pai que a Senhora D. Ermelinda não fazia uso da casa há muito tempo. Vivia junto com uma filha.
Espantou-me porque não queria entender o porquê daquele desejo do meu pai em passar férias na terra que não era dele, dele eram as poucas lembranças que guardava no mais recôndito da sua memória, numa casinha que mais parecia retirada dos livros de contos de fadas que eu em menina devorava.
Entrar naquela casinha foi como se tivesse recuado no tempo, no tempo que não era o meu, no espaço que identifiquei como sendo a pequena casa em que meu pai viveu.
O chão da cozinha era castanho, castanho-escuro da cor de terra, terra pisada por pés calejados, castigados por árduos dias de trabalho, pés nus de crianças clamando o pão.
Na cozinha não tinha qualquer tipo de electrodoméstico, muito menos um fogão, para grande espanto de minha mãe. Num dos quantos tinha uma pequena e rudimentar lareira maltratada pelo tempo.
Os quartos eram dois e estavam equipados com duas modestas camas de ferro, já um pouco enferrujadas. Sobre as camas caíam colchas de lã de cores garridas e vivas contrastando com o ar sombrio e abandonado da casa.
E o meu pai tudo olhava maravilhado...
Encantado por encontrar a casinha no estado original…