OUTONO DA VIDA
Esta tarde, já um pouco fria, o sol brilha lá longe.
E eu aqui ao pé de ti, gravo este momento.
Esforço-me, desdobro-me em duas,
uma que te escuta atentamente,
as tuas, as nossas histórias
e outra que chora compulsivamente
com medo antecipado da despedida.
E lágrimas escorrem pelo meu rosto
e tu ignoras o porquê,
abraço-te, acarinho-te e tento te acalmar,
para que este momento não se acabe.
Porque ainda te sinto presente,
começo a preparar o meu espírito aflito,
receio perder-te brevemente…
Nestes dias que nos restam juntos,
gostaria de te fazer sentir o quanto és especial para mim.
Aliás sempre fostes muito especial.
Não o pai vulgar que é só pai com o olhar.
Que ameaçadoramente impõem a sua imagem.
Foste excepcional desde o dia em que te conheci.
Foste pai, amigo, companheiro,
partilhei contigo brincadeiras, segredos,
mesmo os mais íntimos, como por exemplo,
quando te segredei o meu primeiro namorado,
as minhas aventuras mais estranhas,
que da mãe escondia.
E tu atento fingias que nada vias,
e de longe observavas o meu comportamento.
Sempre presente, estarás sempre presente….