AS PALAVRAS
São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas. Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam: barcos ou beijos, as águas estremecem. Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda. Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras? Eugénio de Andrade
As Palavras
As minhas palavras são punhais....
Punhais que disparo em uma só direcção...
E o alvo que penetram sangra
Gritos soltos, fantasmas dormentes
Cansada recolho as lágrimas
Com beijos esculpidos no tempo
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A DE AMORA FRESCA
Este é o primeiro poema da minha fofinha, a Silvia, que tem 7 aninhos e ás vezes diz que é pequenina. Ás vezes é grande, depende dos interesses pessoais. Bem gerou-se aqui uma grande confusão, pois ela esta a contestar o "ás vezes é grande", diz que nunca poderia ser grande, pois só tem 7 aninhos.....
A de amora fresca
B de bebe choraminga
C de cara enrugada
D de dedo grande
E de erva verdinha
F de falcão lindo
G de garfo preto
H de hora certa
I de igreja bonita
J de janela aberta
L de luva vermelha
M de maquina avariada
N de nanar com sonhos
O de ovelha branca
P de palmilha estragada
Q de queijo amuado
R de rato azulado
S de saca rompida
T de tarde limpa
U de uva roxa
V de verniz do sapateiro
X de xadrez limpo
Z de zorro de capa preta
Fanzeres, 3 de Março de 2007
Sílvia Gomes Alves
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HORIZONTE
Estou completamente deslumbrada com as cores pintadas no horizonte,
cores em tons laranja, fortes, vivas, cores de um por-de-sol único.
Como se meu pai o pintasse exclusivamente para mim.
Sempre me emocionei com momentos como este, e tímidas pequenas gotas
rolam pelo meu rosto já envelhecido. Como se estivesse a celebrar o momento
deliciando-me com o sabor de um qualquer champanhe francês.
Sorvo o liquido que me humedece os lábios
e o sal das lágrimas que saboreio amarga o momento.
Uma brisa suave acaricia-me e transporta o meu pensamento para outro tempo.
O tempo que não vivi…
Transporta o meu corpo para outro espaço
O espaço que não preenchi….
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MOMENTO
Sinto que em mim
Uma guerra se trava
Lava incandescente é cuspida
De minha mente efervescente
Guerra de seres
Seres que intimamente conheço
E me reconheço….
E um vazio em mim se instala
Como se nada existisse dentro
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EIS-ME
Eis-me Tendo-me despido de todos os meus mantos Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses Para ficar sozinha ante o silêncio Ante o silêncio e o esplendor da tua face Mas tu és de todos os ausentes o ausente Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras E o teu encontro São planícies e planícies de silêncio Escura é a noite Escura e transparente Mas o teu rosto está para além do tempo opaco E eu não habito os jardins do teu silêncio Porque tu és de todos os ausentes o ausente |
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)
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ÚLTIMO MINUTO
Naquele dia levava comigo alguns livros de poesia
Sabia que estavas demasiado cansado para poderes falar
Assim tinha oportunidade de te ler, os poemas que eu lia
O esforço que fazia para não te abraçar
Com medo de te apertar, magoar…
O teu corpo desaparecia
E o leve manto que te cobria
Feria a pele que ansiava afagar
E as palavras deslizavam atropeladas
No sal das lágrimas mergulhadas
Quando em silencio te li
“Porque tu és de todos os ausentes o ausente”
Apesar de estar próximo o dia da mãe, este poema é do meu PAI.
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NO MEU MUNDO
No meu mundo...
No meu mundo pequeno
vivem
pouco a pouco
lutando por um espaço
várias figuras femininas
feitas á minha imagem
a figura mulher
a figura mãe
a figura amiga
a figura filha
e a figura principal
eu...
que dia a dia
desenha figuras
ao sabor do vento....