O SILÊNCIO
Por momentos ausentei-me de meu corpo e deixei-me levar pela corrente de recordações que pairavam no ar, aguçando, espicaçando a minha imaginação. Percorri com o olhar cada recanto deste lugar. E comecei a imaginar, um qualquer longuinquo Inverno, o frio a entrar, sem ninguém o convidar, penetrando cada pequena ranhura da porta. A luta entre a pequena lareira e o frio que se fazia sentir seria desigual. Ao longe, era possível escutar o vento a uivar, provocando calafrios, arrepios de frio.
Entre outras coisas imaginei a pouca comida, possivelmente servida numa mesa não muito grande, colocada junto á parede. Provavelmente, um caldo bem quente, que aquece, aquece o corpo enregelado, aquece a alma quase fria.
Meu pai tentava encantar minha mãe, com frases como “vais descansar, aqui é calmo, vais ver…”. Senti pena de minha mãe, dos poucos dias em que iria ali repousar, segundo o meu pai, naquele lugar encantado.
Reviver o passado era o objectivo a que se proponha o meu pai e claro, como tudo na vida, ou quase tudo, tencionava partilha-lo com minha mãe. Não terão sido as confissões, ou as conversas, mas os silêncios. Sobretudo os silêncios. O silêncio de uma casa abandonada, outrora cheia de vida. O silêncio de meu pai que tudo absorvia, como que querendo resgatar o passado. O silêncio das noites que partilharam em silêncio...
Autoria e outros dados (tags, etc)
7 comentários
De V.A.D. a 28.09.2007 às 01:34
Um texto magnífico...!
Votos de uma noite cheia de silêncios cómodos!
Um beijo...