London Pictures
Alguém entrou na minha casa, sentou na minha mesa... entrou na "minha" casa como quem entra de mansinho na minha vida. Olhou-me nos olhos... e perguntou "qual é a sua história Maria?". Na minha casa, em Londres, tem uma porta aberta.... e todos entram de rompante na minha vida. Todos tem uma história e contribuem gratuitamente, clandestinamente na escrita do meu livro, o livro da minha vida. Entram e saiem com apetites loucos...de quem tem fome da terra e sede de amor... Mergulham na confusão, entre gritos estridentes e risos eufóricos de uma alegria efémera. Observo-os distraídamente e em cada rosto, em cada olhar, sinto-lhes a alma perdida...entre o rir por fora e o chorar por dentro e a alma que vagueia... vejo neles pedaços de mim.
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No vento...
Quero que as cinzas do meu corpo
sejam largadas no vento...
e tombem sobre os escombros do
teu pensamento.
E como uma brisa suave
se entranhe na tua pele
e num abraço invisível
te prende-se
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...
Morrem lentas as horas
do relógio da minha vida...
e é doce o sabor
do lento
passar das horas...
como brisa suave que me sopra
a maresia
e ilumina-me este dia.
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Perdida no Tempo
Por segundos perdi-me... fechei os olhos e fiquei perante mim mesma... perante mim e o sol que ilumina este momento. A luz invade o meu rosto e como uma visão, invade o meu pensamento. Esvazio o cerebro de funestas cores e pinto os tons que se entranham em mim... cornucópias multicoloridas, em tons de laranja pinceladas, vivas... iluminam a minha tela... e sinto-me viva! Se morri neste espaço... preenchi o tempo em outro momento, se morri no tempo... preenchi o espaço em outro tempo. Se morri... hoje renasci!!
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Sal das lágrimas
Lá fora o sol brilha
através desta vidraça
não me aquece
não me abraça
Lembro com saudade este mesmo dia
vestido de cores outonais
juntos ouvíamos o chilrear dos pardais
um sol timido a abraçar-nos
e lágrimas pelo meu rosto metas cortavam
As lágrimas visitaram-me hoje
percorreram longas distâncias
Sinto este dia
brindado com tristeza
bebendo
sorvendo as lágrimas do tempo
Sinto o sal das lágrimas a queimar
o meu rosto
turva-me a visão
tolhe-me o pensamento
Hoje quero chorar imensamente
Quero seguir a direcção do cata-vento
que mansamente rodopia
embalado pela brisa quente deste dia
Quero lavar a minha alma
não ser interrompida
sentir-te...
Sentir que o calor que entra
na janela do meu quarto
é o teu abraço...
Saudades de ti Pai...
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O OUTRO LADO DO MUNDO
A solidão do vento
entra pelas frestas da minha casa
irrompe frio, gelado na procura
de um aconchego
Roça as minhas pernas
e um calafrio percorre o meu corpo
Sinto-me invadida por um abraço gelado...
O vento
no meu lar encontra
uma nesga de mim
e na minha solidão
encontramo-nos...
Como o vento
encontro neste pedaço de luz
almas solitárias
que percorrem distâncias
na busca de um aconchego
E na distância imposta por mim
leio frases soltas
comentários solitários
e pressinto lamentos
e numa lassidão total
tento adivinhar rostos escondidos
do outro lado do mundo...
http://www.youtube.com/watch?v=qYKtYMST8wY
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ATROPELADA PELO TEMPO
Imagem retirada da internet
Tenho a sensação que
salto páginas do livro da minha vida...
Que corro entre multidões de rostos sem faces
como se
numa folha branca desenhasse letras sem tinta
Pintando em vão o teu rosto que
no tempo se esfuma
Sinto que procuro em cada olhar
que não encontro
o teu rosto
Reconheço-me a mim
em momentos plenos de solidão
Atropelada pelo tempo
deixando marcas no meu corpo
vincando a traços carregados
as linhas do meu livro.
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ALBANO MARTINS
Como quem
no silêncio concebe
o espaço
para um filho
- assim te vejo, assim
te quero
e louvo
e invoco
e te perfilho
Albano Martins
Pequenas coisas |
Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
Albano Martins
Escrito a vermelho
Campo das Letras
1999
1ª edição
|
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ASSIM...
Porto-Parque da Cidade - Foto de António S. Pereira
(Retirado do site Olhares-Fotografia On Line)
Como um fruto que mostra
Aberto pelo meio
A frescura do centro
Assim é a manhã
Dentro da qual eu entro
in "Livro Sexto"
Sophia de Mello Breyner Andresen
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A CHAMA
The Fire Eater by Connie Kleinjans
A chama que insiste
alimenta-se de palavras
e voraz ingere-as sofregamente
A brisa que sopra suavemente
é suficiente para a manter viva
Ora a torna labareda
fogo fátuo cavalgando
em asas indomáveis
inflamando os trilhos de paixão
Ora pequena réstia de luz
desvanecendo-se como se fosse
sucumbir num último suspiro...